André L S Freire
“Definir-se como profissional e escolher de quer lado ficar, dos opressores ou dos oprimidos”. Essas foram umas das primeiras palavras do jornalista e apresentador do programa Linha Direta, da Rede Globo de Televisão, Domingos Meirelles durante a palestra intitulada Mídia e Violência, que ocorreu na última terça-feira (27), no Fiesta Bahia Hotel, em Salvador.
O evento que foi organizado pela FIB Centro Universitário da Bahia, contou com a presença de vários alunos e professores do curso de jornalismo, que lotaram o auditório do primeiro andar. Estiveram presentes também o reitor da FIB doutor Nelson Cerqueira e o professor Paulo Leandro, coordenador do curso e que foi um dos idealizadores do evento.
Durante a palestra, Domingos Meirelles contou um pouco da sua trajetória na profissão, desde quando era vendedor de máquinas de escrever e ingressou no jornal carioca Última Hora, até sua chegada a Rede Globo de televisão, onde segundo ele foi mal recebido e teve que quebrar muitos dogmas que permeavam a atividade no veículo, a exemplo da utilização de barba e o fato de não ter origem, nem conhecimento aprofundado, até então, em televisão. “Fui recebido de uma forma hostil, de uma forma que jamais me esquecerei”, acrescentou.
Voltando-se para o tema Mídia e Violência, Meirelles destacou que as críticas sobre como a mídia trata o assunto perante a sociedade não são recentes, mas existem desde a época imperial, quando Dom Pedro I já acusava a impressa de estimular o crime ao relatar em suas páginas suicídios e homicídios, ocorridos na cidade do Rio de Janeiro. Contudo, ele complementou falando que o assunto tem uma dimensão muito grande e que cada caso tem suas próprias características, ou seja, a mídia de fato pode ser um veículo a serviço do mal, embora esse não seja o seu objetivo. Ele comprova isso contando um episódio ocorrido na Rede Globo, em 1994, em que uma matéria que visava mostrar a fragilidade na blindagem dos carros transportadores de valores, conhecidos como “carros-fortes” acabou despertando os bandidos e gerando por tanto, uma onda de assaltos a esse tipo de veículos, jamais vista antes no país. Meirelles complementa, então falando que definir o que pode servir ou não ao crime é uma responsabilidade muito grande, diante da dinâmica da profissão, onde em muitas situações é definido se uma matéria vai ao ar ou não em questão de segundos. “É preciso ter uma percepção, uma sensibilidade quase extra-sensorial, uma delicadeza de sentimentos para saber detectar se aquela matéria informa mais a sociedade ou se aquela matéria tem interesse imediato do mundo do crime”, concluiu.
Na saída, os interessados tiveram ainda a oportunidade de ter um contato mais próximo com Domingos Meirelles, tirar fotos, além de adquirir um dos livros escritos por ele, a exemplo de As noites das grandes fogueiras e 1930: os Órfãos da Revolução, obra que fala sobre a conspiração que deu origem à Revolução de 1930
A palestra durou cerca de 1h 40 e dividiu opiniões, quanto à discussão do tema proposto. Ao término, alguns acharam ter fugido totalmente ao assunto, enquanto outros se mostraram satisfeitos com o evento. Para o estudante de jornalismo Osvaldo Marques, embora vários outros assuntos tenham sido abordados, o tema foi explicado com clareza e objetividade, além de destacar que só o fato de se tratar de um jornalista de renome já tornou a palestra significava. Entretanto, para Everaldo Santos, estudante do 4º de jornalismo, o evento teve mais o caráter de auto-promoção, uma vez que, Meirelles contou muitas histórias vivenciadas por ele, na profissão, e se ateu pouco ao tema mídia e violência.
Procurado logo após a palestra, o coordenador Paulo Leandro, disse que o evento atendeu suas expectativas e quando questionado sobre a importância desse tipo de conferência para o alunado, ele ressaltou que o objetivo era sair um pouco da ilha acadêmica para ter um contato com um profissional que tivesse uma vasta experiência na área jornalística. E concluiu dizendo que independente de qualquer coisa o foco maior era: “(...)tentar abrir para o mundo exterior e conhecer um jornalista de “carne e osso”, com uma carreira de 43 anos, trazer a experiência de alguém que viveu na pele com uma trajetória profissional intensa.”
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