Aparentemente seria um dia como outro qualquer na Praça da Piedade, localizada no Centro de Salvador. Era por volta das 3 h da tarde, temperatura amena, com movimento típico do local, muitos carros circulando nas ruas e pessoas que a todo o momento passavam de um lado para o outro - o retrato comum de um dos locais mais agitados da cidade. No entanto, na Praça, local quase que sagrado para os encontros dos aposentados, acontecia uma manifestação de professores da rede pública de ensino, que paralisaram suas atividades simultaneamente por 24 h em todo o país, com a finalidade de reivindicar aumento do piso salarial da categoria. Embora o movimento fosse atípico, no local, como era de se esperar, lá estavam os “aposentados da piedade” reunidos e acompanhando todo o acontecimento.
No início da conversa com eles, muitos se mostraram desconfiados com a minha presença, se recusando a falar o nome, idade ou local onde morava. Contudo aproximo-me com mais calma de um deles, e puxo conversa sobre a manifestação feita pelos professores, além de perguntar o que ele achava da situação. De pronto Lírio Lucas da Costa, de 65 anos me respondeu que era a favor da manifestação, pois para ele o salário dos professores no Brasil é vergonhoso. Costa, que mora no Hotel Bela Vista, no bairro da Barroquinha, freqüenta a praça desde 1967, confirmando que o costume de se reunir no local vem de muitos anos. Ele diz que o atrativo da praça é o encontro e a conversa com os amigos: “o principal passatempo é o bate-papo para colocar as conversas em dia”, conta. Para ele a classe dos aposentados é uma das mais sofridas da sociedade brasileira, com pouca assistência cedida pelo governo seguido de um baixo benefício financeiro: “... o cidadão de um modo geral tem respeito conosco, mas o governo que deveria nos dar maior apoio nos trata com muito descaso”, finaliza.
Aos poucos vou me inteirando com o grupo e ganhando a confiança de cada um deles. José Afonso Sena é um exemplo. Aos 94 anos, ele é o mais velho do grupo a freqüentar a praça e muito embora a idade seja avançada, o seu espírito é bastante juvenil. Muito bem vestido com calça e camisa sociais e usando uma boina cinza, ele conta que quase todos os dias, sai de sua casa, em Nazaré, na região da Mouraria, com destino a Praça da Piedade. Preferencialmente à tarde, a cerca de seis anos ele se encontra com os amigos, onde aprecia a conversar e distrai a mente observando o movimento complexo do centro da cidade. Quando o pergunto sobre a maneira como o governo e a sociedade lida com os idosos no Brasil, ele baixa o rosto marcado pelo tempo e responde: “não é boa, o desrespeito é grande e o salário é pouco, por isso sobrevivo com a ajuda dos meus filhos”, afirma.
Antonieta Santos, de 75 anos, a única mulher que estava presente no grupo tem, além da conversa, um atrativo a mais no centro da cidade. Ela que mora no Engenho Velho da Federação, freqüenta a praça a mais de sete anos e aproveita para ir à feirinha próxima do local para fazer algumas compras, sobretudo de frutas. Por esse motivo ela diz que geralmente vai à praça pela manhã, passa cerca de 2h observando o grande movimento de pessoas e depois retorna para casa, onde faz o que mais gosta: assiste televisão. Sobre a atual situação dos idosos, ela fala que hoje já não se tem mais o respeito de antes, a exemplo dos ônibus onde diz conviver com o descaso tanto de motoristas como de passageiros. Sobre a pensão que recebe ela ratifica: ”é uma micharia e mal dá para fazer alguma coisa”.
A realidade social
O Brasil enfrenta hoje, um período de muitas conturbações. São vários os problemas econômicos e sociais que envolvem os campos da saúde, mercado de trabalho e educacional. Dentre todos esses problemas, a questão do idoso brasileiro é um de difícil solução, o qual vem sendo um grande desafio.
O envelhecimento pode ser compreendido como um processo natural ao longo da vida, mas a idéia pré-concebida sobre a velhice aponta para uma etapa que pode ser caracterizada pela decadência física e principalmente pela ausência de papéis sociais. Segundo dados da Previdência Social, os idosos no Brasil ultrapassam os 15 milhões, correspondendo a 8,6% da população total do país. Na Bahia, de acordo com o IBGE são mais de 1,2 milhões de idosos com idade superior a 60 anos, o que representa cerca de 9,1% de toda a população do estado. Os números revelam que o brasileiro tem vivido mais, porém diferentemente de outras nações, como Japão, China e Equador os idosos não são tratados como símbolo de sabedoria para os mais jovens ou com respeito superior, como acontece também entre comunidades indígenas.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
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