André Luis Silva Freire

De acordo com especialistas na área sócio-política, a ausência de iniciativas por parte do governo, que visam atender as necessidades do cidadão favoreceram, sobretudo nos últimos anos a criação de diversas ONG’s, voltadas aos mais diversos seguimentos da sociedade, a exemplo de entidades preocupadas com a questão educacional e cultural do país.
Com sede localizada no bairro da Lapinha (Liberdade) e uma filial na Ilha de Itaparica a OAF (Organização de Auxílio Fraterno) entidade sem fins lucrativos oferece é uma delas. A entidade, além de oferecer curso de educação fundamental, promove gratuitamente cursos profissionalizantes para a comunidade de crianças e adolescentes carentes e que se encontram em situação de risco pessoal e social.
Na grande maioria dos casos, essas crianças e até mesmo os pais são encaminhados a OAF, por órgãos oficiais, como Juizado da Criança e o Conselho Tutelar. Dentre as principais dificuldades enfrentadas por essas pessoas e identificadas por quem trabalha no local, a busca por tratamento de saúde, escola, desemprego, falta de condições mínimas de moradia e busca por parentes ou familiares perdidos se evidenciam.
Contudo é na área da educação e cultura que o projeto da OAF é forte e mais reconhecido. De acordo com Guida, psicóloga que trabalha na parte de assessoria da entidade, ao longo desses anos as ações norteadoras da OAF tem sido, acolher, educar e profissionalizar, com o intuito de preparar um melhor futuro para as crianças e jovens que freqüentam ou vivem na instituição. Ela diz ainda que: “O princípio do trabalho fundamenta-se no desenvolvimento de programas que contribuam para a promoção e capacitação profissionais desses jovens e crianças, viabilizando com isso o acesso dos mesmos ao mercado de trabalho”.
No atendimento em educação fundamental, as crianças são levadas a interagir com um mundo em constate modificação, começando pelas novas tecnologias exemplo do computador. Através de parcerias com a Cipó Comunicação Interativa, são oferecidos cursos de informática básica, que visam abrir fronteiras para a inclusão digital, sendo oito turmas aqui em Salvador e oito também em Itaparica. Além disso, a entidade comporta em suas dependências a escola municipal Carlo Novarese para alunos até a 8ª série, que atende cerca de 310 alunos por ano, com ensino integral. Para a mãe de um aluno, Luana Santos a OAF é uma instituição importante para seu filho e para ela, uma vez que se sente segura em deixá-lo na escola durante manhã e tarde. “Deixo ele de manhã, vou trabalhar e no final da tarde, quando estou voltando do trabalho, passo aqui para pegar ele”. Comenta.
No campo profissionalizante os cursos adquirem dupla importância: contribuem para o aprendizado técnico do jovem e ajudam a manter a instituição, com os produtos que são confeccionados nas Oficinas Formação de Jovens e Instrutores, criada no início da década de 90. Nelas os alunos têm a oportunidade de aprender técnicas de marcenaria, metalurgia, serralheria, serigrafia e confecção, produzindo móveis escolares, residenciais, de escritório, hospitalar, vestuário hospitalar, de cama, mesa e banho, fardas e roupas profissionais, além de alimentos, como pães e biscoitos. As oficinas atendem aproximadamente 200 alunos por turno, que alem disso são acompanhados e encaminhados à estágios em agências como o IEL (Instituto Euvaldo Lodi), para que sejam inseridos no mercado de trabalho. Dentre outras coisas, a OAF se responsabiliza ainda por 22 alunos em nível superior custeando todo o curso.
No campo cultural as iniciativas são variadas. Partindo do pressuposto de que a escola é um local de aprendizagem e que isso se dá através dos sentidos, a OAF realiza atividades que contribuam para o desenvolvimento do potencial criativo das crianças e adolescentes. No Atendimento em Atividades de Arte-Educação, como é chamado o projeto foram implantadas várias oficinas para atingir esses objetivos, a exemplo de dança, teatro, artes plásticas, educação física, capoeira, karatê, recreação, literatura, música e fabricação de brinquedos com sucata e madeira. Dentre essas atividades o destaque é para a filarmônica composta por 25 alunos, mas que no momento não está funcionando por motivos financeiros.
Fundada em 1958, pela advogada Dalva Matos a OAF está prestes a completar 50 anos e representa hoje uma das organizações não governamentais mais atuantes no que diz respeito a educação e desenvolvimento da cidadania na cidade. Segundo Guida, a entidade não recebe nenhuma ajuda financeira do governo ou prefeitura. O que existia até pouco tempo era uma parceria com a EBAL (Empresa Baiana de Alimentos), através da qual móveis confeccionados pelos alunos dos cursos técnicos eram vendidos. No entanto, por conta de algumas irregularidades na administração da EBAL todos os convênios foram encerrados, e foi aberta uma CPI. Entre os convênios que em vigor e que foram suspendidos estava o da OAF, que de acordo com Guida perdeu um de seus principais clientes. A assessora diz ainda que o fato abalou muito a instituição em termos financeiros, e que algumas dificuldades provenientes do cancelamento do convênio, já começam a ser notadas como, algumas oficinas profissionalizantes sem professores e uma redução no quadro geral de funcionários, que de 360 caiu para cerca de 110.